O menino da Internet

Entre listas perdidas em alguns apps e a da Netflix, são vários os filmes que eu quero assistir, que um dia assistirei. A velocidade com que saem e que descubro novidades é maior do que o tempo livre para, de fato, dar cabo da lista, então ela continua crescendo, não importa quanto tempo dentro do disponível eu passe tentando diminui-la.

Às vezes vejo progressos. Recentemente risquei um filme antigo — em absoluto e nas minhas listas: A Felicidade Não Se Compra, o clássico de Frank Capra lançado em 1946. O filme conta a história do desafortunado George Bailey, que queria viajar e fazer grandes coisas e acaba empacado na cidadezinha onde nasceu. A grande lição é que fazer o certo e cultivar amigos são ingredientes obrigatórios para se ter uma vida feliz, mesmo que em todos os outros aspectos ela seja uma droga.

É uma história emocionante, mas compartimentada numa estrutura que considera pouca coisa externa, que assimila o sistema e trabalha segundo as suas regras.

Muitas décadas depois, um rapaz chamado Aaron Swartz achou que podia consertar esse sistema. Não lhe faltavam conhecimento e credenciais para, pelo menos, contribuir nesse sentido. Ele ajudou a desenvolver o RSS e a Creative Commons, co-fundou o Reddit, criou a Open Library, contribuiu para a liberação de documentos judiciais públicos dos EUA, foi decisivo no movimento que barrou o SOPA e baixou artigos acadêmicos da rede do MIT. Por esse último ato, suicidou-se.

Sua história é contada no documentário O Menino da Internet. Tem para baixar no Internet Archive, de graça. Foi uma coincidência tê-lo visto logo depois de A Felicidade Não Se Compra porque ambos mostram a angústia de dois homens pressionados, à beira da exaustão, só que por motivos diferentes. Bailey só queria pagar seus credores; Swartz, mudar o mundo.

Quando o documentário acabou, eu me senti meio quebrado. Não sou tão inteligente ou articulado quanto Swartz era, mas mesmo na minha ignorância me parece bastante claro que não contribuo tanto quanto poderia para melhorar o que está à minha volta. O Menino da Internet é um soco no estômago. E também uma chamada. Acho que podemos fazer mais.

Swartz tinha um blog, o Raw Thought. Em seus últimos meses de vida, ele publicou uma série de posts chamada Raw Nerve em que, com sua visão analítica, junta pedaços de conhecimento, remixa e tenta extrair bons insights para sermos pessoas melhores.

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