Quando o fotógrafo apontou a máquina para seu lado…

Quando o fotógrafo apontou a máquina para seu lado, Raimundo estremeceu. Olhou bem sério. A máquina disparou, aproximou-se revoltado:

— É só uma fotografia.

— Mas eu sou um homem velho, carregado de filhos, não faça isso comigo, não.

O fotógrafo foi embora e Raimundo ficou parado no meio da feira de Picos, trezentos e cinquenta quilômetros a Sudeste de Teresina, no Centro-Leste do estado. Estava angustiado: “Por que logo eu?”, pensou. “Sou alto e forte, mas já estou velho para ir à guerra.” Foi apressado se informar com Edilberto, o cearense comerciante de rede que tem lojinha na esquina, homem de saber. Edilberto riu de suas preocupações:

— Você não vai para a guerra não, seu Raimundo. É retrato para uma revista do Sul.

— E o retrato é de graça?

— É sim, você não vai pagar nada e quem sabe sai sua cara na revista.

Raimundo afastou-se intrigado. Seu dia estava alterado. Precisou até forçar a memória para lembrar onde amarrara o jumento com o jacá de galinhas e a cabritinha Fumaça, que trouxera para vender na feira.

— Trecho da reportagem “O Piauí existe”, de Carlos Azevedo, publicada na revista Realidade em fevereiro de 1967. Da coletânea A arte da reportagem: Volume I, organizada por Igor Fuser.

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