Akira Toryiama

Quando criança, não entendia por que as personagens de desenhos animados tinham uma espécie de amnésia entre os episódios. O que acontecia em um era esquecido ou ignorado no seguinte, criando histórias isoladas.

Muito antes de ouvir falar em arcos narrativos, transmídia e outros termos geradores de universos ficcionais, achava que havia ali um grande potencial sendo desperdiçado.

E não que fosse uma ideia muito maluca, de outro mundo. Novelas já existiam, afinal.

Dragon Ball Z foi o primeiro contato que tive com uma animação com história contínua.

Até demais: às vezes duas personagens passavam três, quatro episódios se encarando e gemendo antes de caírem na porrada. Em outras, quando o desenho alcançava o mangá (o que só descobri anos mais tarde), ele ganhava “fillers”, histórias ruins para esperar o mangá avançar. “Filler” deve ser a tradução japonesa para “encheção de linguiça”.

Nesta sexta (8), foi divulgada a notícia de que Akira Toriyama, o criador de Dragon Ball, morreu aos 68 anos.

Acho que não teria paciência de assistir outra vez a sua obra mais famosa, muito menos às sequências que, acho eu, ainda são publicadas. (Uns anos atrás vi um Goku de cabelo azul. Não entendi e fiquei com preguiça de descobrir o que estava acontecendo.)

Outro mérito de Dragon Ball que só reconheci mais tarde é o fato de ser uma produção assumidamente infantil. (Desde que ignoremos a mensagem nada edificante de que todo e qualquer problema se resolve indo às vias de fato.)

Dragon Ball se leva a sério de um jeito bobo, que só uma criança é capaz de aceitar sem achar a situação toda meio ridícula. Não à toa, as partes que ainda acho engraçadas são as que se levam menos a sério, como o Sr. Satan e o anticlímax da espada Z.

Se quase fui otaku um dia (e passei perto), foi por culpa do Akira.

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