Viver e o tempo

Todo ano, muitas pessoas (ou alguns desocupados no Twitter) reclamam horrores de que janeiro nunca acaba.

Estranho. Para mim, janeiro passou voando. Pisquei e estamos em março. Temo que quando piscar de novo já será 2025.

Existem várias explicações e teorias de como percebemos a passagem do tempo. Não vou explicar nenhuma porque não sei e a internet já está abarrotada de gente que fala do que não sabe.

A única coisa que posso dizer com propriedade é que, depois dos 30, o tempo parece um caminhão sem freio descendo a ladeira.

Dia desses assisti a Viver, do Akira Kurosawa. No filme, um burocrata japonês que trabalha há quase 30 anos na prefeitura, no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas com um desânimo contagioso, descobre um câncer terminal no estômago. A notícia desencadeia uma reviravolta: à beira da morte, ele começa a viver.

(É um enredo meio clichezão, mas o filme é ótimo — forte indício de que não existe história ruim, só história mal contada.)

Faz cinco anos que trabalho por conta própria, em casa, olhando para telas a maior parte do tempo em que estou acordado. “O editor da sua própria emboscada.” Sinto que não estou sozinho, ainda que esteja.

Viver suscita muitos pensamentos. Será que estamos desperdiçando o nosso tempo?

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