O silêncio
O silêncio (Ingmar Bergman, 1963).
O silêncio (Ingmar Bergman, 1963).
No hipnotizante crepúsculo da metrópole, eu sentia muitas vezes a solidão à minha espreita e dos outros — jovens balconistas pobres que perambulavam diante das vitrines, esperando a hora de entrar num restaurante para um jantar solitário — jovens balconistas à luz do anoitecer, desperdiçando os momentos mais intensos da vida e da noite.
— F. Scott Fitzgerald, O grande Gatsby.
Faz mais ou menos uma semana, decidi parar de usar máscara no dia a dia.
Nesta sexta (5), a OMS anunciou o fim da emergência de saúde pública global da covid-19.
Coincidência? Sim.
Foi naquele dia, quando saíam do apartamento para juntos darem um passeio pela cidade, que ele notou que a mãe estava com sapatos descascados. Ficou confuso e quis avisar, temendo ao mesmo tempo magoá-la. Passeou com ela duas horas pelas ruas sem poder despregar os olhos dos seus pés. Foi então que começou a compreender o que é o sofrimento.
— Milan Kundera, A insustentável leveza do ser.
Grupo de condomínio grande no WhatsApp é um dos ambientes digitais mais barra-pesada que eu já frequentei. É porradaria o dia inteiro e a galera sempre interpreta as mensagens da pior maneira possível.
Agora tem um aplicativo para abrir o portão do condomínio (porque não quis dar minha biometria facial) e, meu deus, acho que nunca mais vou sair de casa.
Escolhi aprender, mas era mais do que isso — aprendi a confiar, a baixar a guarda e ficar vulnerável. Desde então, raramente me desapontei. Isso, para mim, é força, e é por isso que acredito na bondade da natureza humana. Quando estamos vulneráveis, criamos os vínculos mais fortes e as possibilidades mais inspiradoras.
— Maria Ressa, Como enfrentar um ditador.
Quando você se senta e não faz nada, cada minuto se arrasta para o que parece ser o infinito. Mas quando você, por outro lado, desliga o cérebro no TikTok ou fica rolando a tela do Twitter, o hiperespaço parece se curvar na direção oposta: pisco e o macarrão passou do ponto, pisco outra vez e a iluminação da cozinha está diferente, mais fria, as sombras se movimentaram. Estamos realmente vivos se não estamos aqui?
À hora em que os pássaros despertam alegres e amorosos, em que o vento mais queixoso cicia por entre as franças das árvores, em que a relva, orvalhada pela noite, ergue suas folhinhas mais verdes e mais belas, a essa hora mágica em que toda a criação louva ao Senhor, e que o coração sente que nasceu para amar, a donzela, procurando fugir a suas meditações, saía a respirar a pureza da aragem matutina.
— Maria Firmina dos Reis, Úrsula.