Por que troquei um Android novo por um Symbian velho

Semana passada eu estava eufórico: acabara de pegar um smartphone com Android, o badalado e cada vez mais popular sistema operacional móvel da Google. Tratava-se de um Motorola Backflip.

Mesmo vindo com uma versão muito defasada do sistema, 1.5 “Cupcake” (a atual é a 2.2 “Froyo”), não me deixei abater e fui em frente. Esse detalhe só refletiu no uso cotidiano, acho eu, quando, devido a limitações da versão, fiquei impossibilitado de testar aplicativos mais moderno, como o recém-lançado TweetDeck. Nada muito grave, afinal, para quase tudo encontrei equivalentes que rodam nos Androids vovôs.

Uma semana foi o que consegui aguentar com o Backflip. Não me leve a mal; o aparelho é lindíssimo, tem recursos bacanas, uma tela ótima e alguns outros destaques. O problema é que antes dele eu tinha um Nokia N82.

Lançado em novembro de 2007, o N82 era definido como “a versão candybar do N95”. Meia verdade, já que além de conservar todas as boas características do irmão famoso, ele trazia algumas peculiares que o faziam brilhar, como flash de xenon e mais memória, e alguns contras meio dispensáveis, como ausência de infravermelho. Hoje não se encontra mais novos para comprar, pelo menos não facilmente, e os usados são bem disputados em sites de leilão.

O N82 me custou uma grana legal em meados de 2008, mas valeu cada centavo. Era um celular topo de linha na época, e tamanha qualidade faz com que ele tenha uma certa “proteção anti-temporal”. Enquanto outros modelos sofrem pela falta de um recurso ou outro e ficam defasados, esse continua firme e forte, com muitas características arrebatadoras.

Foi ao confrontar o Backflip com o N82 que tive uma recaída pelo então ex-celular. O aparelho da Motorola me decepcionou muito em dois pontos nos quais, não por acaso, o da Nokia se sobressai a muito smartphone atual com pose de parrudo: câmera e autonomia da bateria. Esses pontos somaram-se a outros incômodos do Backflip, como volume da campanhia baixo e o uso meio desastrado de minha parte da tela de recebimento de ligações, e desde hoje cedo estou de volta ao N82.

Já imagino muitos me chamando de maluco por ter trocado um Android (velho, mas ainda assim…) por um Symbian ainda mais velho (S60 3rd Edition FP1). O Android é bem legal, mesmo na versão 1.5. Coisas como a sincronia com o AppBrain, os joguinhos que usam a tela sensível a toques, o amplo suporte de sites de serviços com aplicativos novos e bonitos, coisa rara no universo do Symbian, são de fato tentadores.

Mas (sempre tem um), são tentadores, não suficientes para me fazer trocar um hardware de ponta por um mais ou menos. Nesses sete dias de Backflip, só não recarreguei sua bateria num único dia. Quando precisei da câmera, o foco maluco me obrigou a tirar três fotos, parado e com o ambiente colaborando, para obter uma aproveitável — e olha que não recorri ao flash.

O N82 aguenta tranquilamente quatro dias longe da tomada, e a câmera, embora hoje não mais líder entre os celulares com tantas melhores por aí (iPhone 4, Nokia X8, LG Viewty, etc.), ainda faz bonito, deixando no chinelo a maioria das dos modelos mid-range, como a do Backflip.

E o Symbian… Vivo com ele uma relação de amor e (pouco, sinceramente) ódio. A OVI Store é pobre de aplicativos, e no Brasil nem tem os pagos — lastimável, pra resumir. Como dizem por aí, tudo no Symbian é mais difícil e feio, e é verdade. Mas funciona bem, não me deixa na mão, e acredito que essa escassez de possibilidades ajude a manter o foco, o que me traz alguns efeitos colaterais benéficos, como menos dor de cabeça com problemas no smartphone, menos recarga de créditos por conta do consumo do tráfego de dados, mais economia por não ficar tentado a comprar todo aplicativo legal que aparece (já que eles nunca aparecem).

E, olha só, tem coisas muito legais no Symbian, mesmo no 3rd Edition. Aproveitei o retorno ao N82 para reinstalar o sistema e ir em busca de novos aplicativos.

Enquanto varria a OVI Store em busca deles, me deparei com o promissor ZOMF. Não é que o negócio funciona? Antes dele, só tinha visto função parecida com essa no Zune HD, que em todo caso não é smartphone. Seguindo à risca o mantra do Symbian, o ZOMF é feio e dá um trabalho danado de ser configurado, mas cumpre o que promete: sincroniza PC e smartphone usando a rede Wi-Fi.

Ainda consegui encontrar uns temas decentes (menos o que eu queria mesmo, o novo tema do Symbian^3 para S60 3rd Edition. Alguém sabe aonde tem?) no DeviantART, e fazer a sincronia de email, calendário e contatos funcionar via Mail for Exchange.

Essa experiência com o Android/Backflip só serviu para fortalecer minha faceta minimalista, a qual procuro consolidar cada vez mais. Eu estava bastante satisfeito com o N82, adquiri o Backflip num gesto bacana de um amigo, e… hey, eu podia ter passado sem essa.

Se Motorola, HTC, Samsung, LG, a própria Nokia e tantas outras continuam lançando três, seis, dez aparelhos por ano, na tentativa de fazer com que nós, consumidores, sintamos a necessidade de trocar de celular como quem troca de roupa, eu fico na minha, satisfeito com o que tenho e explorando o potencial das minhas propriedades no limite. Meu bolso e minha consciência agradecem.

« Próximo post Post anterior »