Sobre ser introvertido

Um dia estava no apartamento das minhas irmãs discutindo alguma coisa irrelevante com uma delas. A discussão se acentuou e, em dado momento, pedi um tempo e disse que escreveria uma resposta no Facebook.

Elas riram horrores da minha reação e desde então esse episódio é relembrado em tom jocoso, meio que para exemplificar a minha falta de tato para conversas triviais e dificuldade em responder de pronto. Eu realmente não sei conduzir muito bem conversa de elevador e falo devagar, tento pensar antes para não dizer bobagem (nem sempre funciona).

Essas duas características somadas a outras me classificam como uma pessoa introvertida.

Li faz algum tempo que a felicidade está intimamente ligada ao auto-conhecimento. Quanto mais conhecemos sobre nós mesmos, mais nos aceitamos e, consequentemente, lidamos melhor com essa coisa difícil que é existir. Conhecer-me como introvertido em termos tão claros há uns dez anos teria feito de mim um adolescente menos ansioso e me poupado de alguns sofrimentos bobos. Paciência.

E não é que faltem dicas ou material sobre o assunto. Esta tirinha traduzida em português pelo Augusto Campos, por exemplo. Ela é bem marcante por abordar o convívio social, uma das áreas mais complicadas para quem tem esse traço de personalidade. Com poucas palavras ela diz muito. Mas um livro pode dizer mais.

Um que comecei a ler recentemente, O poder dos quietos, de Susan Cain, é todo sobre introversão. Logo no começo a autora manda uma descrição sucinta e absurdamente precisa, daquelas que a gente lê e, em seguida, olha para trás para ter certeza de que não estão nos observando:

Introvertidos geralmente trabalham mais devagar e deliberadamente. Eles gostam de focar em uma tarefa por vez e podem apresentar grande capacidade de concentração. Eles são relativamente imunes ao fascínio da riqueza e da fama.

(…)

Introvertidos (…) podem ter fortes habilidades sociais e gostar de festas e de reuniões profissionais, mas depois de um tempo gostariam de estar em casa vestindo seus pijamas. Eles preferem devotar sua energia social a amigos próximos, colegas e família. Eles ouvem mais do que falam, pensam antes de dizer alguma coisa e em geral sentem que se expressam melhor escrevendo do que conversando. Eles tendem a não gostar de conflitos. Muitos têm pavor de conversa fiada, mas apreciam discussões mais profundas.

Depois que me descobri e me aceitei como introvertido, por um momento temi usar isso como muleta para me fechar ainda mais. Só que o que aconteceu foi diferente: por me conhecer melhor, passei a responder aos estímulos de forma consciente e vez ou outra até desafiar essa minha pré-disposição. E, o mais importante, deixei de me recriminar quando, por qualquer motivo, resolvo ficar em casa vendo filme em vez de ir para a balada num sábado.

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