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Sósias

Nós, seres humanos, somos muito diversos. Cores, formas, traços, uma maravilha. Olhe mais de perto, porém, e verá que ao mesmo tempo somos todos bem parecidos. Não tem uma pessoa sequer que não te lembre outra — um amigo, um conhecido, um famoso, alguém aleatório no transporte público que você não consegue precisar com quem, mas tem certeza de que se parece com alguém.

Uma vez disseram que eu parecia com um ator do segundo escalão da Globo. Não soube quem era só pelo nome, aí saquei o celular, procurei fotos do fulano e… ok? Concentrando-me em partes específicas de seu rosto, consegui me ver naquele outro ainda que vagamente.

Só que ter um sósia não tão famoso é inútil. Quando essa conversa de quem se parece com quem surge, de nada me adianta ser parecido com aquele cara porque, embora eu não seja um entusiasta da teledramaturgia brasileira, não estou sozinho no fazer cara de paisagem quando seu nome é mencionado. O trabalho de pegar o celular ou enveredar no “é aquele, que fez o papel de coadjuvante do núcleo de humor daquela novela das 18h que foi um fiasco em 2011” é demais para um exercício coletivo a que recorremos quando sem assunto ou quando a verossimilhança (com alguém mutuamente conhecido aos interlocutores) é digna de nota.

Recentemente, mais de uma pessoa me disse que pareço com o protagonista psicopata de uma série norte-americana. Procurei fotos do sujeito, pois nunca vi a série, e não me achei em nada parecido com ele. “É o jeitinho de vocês que é parecido”, alguém esclareceu para meu completo horror. “Tipo, você não usa foto no WhatsApp”, emendou, não sei se para me tranquilizar ou dar uma dica.

12/1/2020
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