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A lição do meu pai

Quando era mais novo, ficava intrigado com a capacidade que meu pai tinha de me dar uma bronca e, dali a alguns minutos, dirigir-se a mim para falar qualquer trivialidade ou pedir alguma coisa. “Eu ainda estou bravo com você!!”, pensava enquanto o ouvia, incrédulo.

Não levo mais broncas. Em compensação, ao longo dos anos passamos a discordar bastante dos mais variados assuntos. O que não é necessariamente ruim. Acho que uma das principais funções dos pais é dar espaço aos filhos, deixar que eles sejam expostos a ideias que confrontem as recebidas em casa. “Doutrinação ideológica” é blindar alguém contra pensamentos diferentes do teu, afinal.

Mesmo com visões de mundo distintas, nossa relação sempre foi respeitosa e amorosa — não por isso, pela discórdia, mas ela até melhorou com o passar do tempo. Talvez seja a maturidade, talvez eu tenha cultivado sem perceber, pelo exemplo, aquela virtude dele de separar a obra do artista, ao menos em relação a mim.

Seria legal ver mais disso por aí, fora das famílias nucleares e dos amigos do peito, dos “nossos”. A esse dever me incluo também, porque o mundo está maluco e, com frequência, tenho me pego irritado com pessoas, não com ideias. (Embora existam pessoas e ideias que são, em essência, ruins, mas divago.) Porque se fôssemos usar como régua a moral que julgamos ideal, não sobraria ninguém — nem nós mesmos.

12/8/2018
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