Faz uns anos que decidi usar apenas o perfil do Manual do Usuário no Twitter para publicar materiais do Manual e opiniões de tecnologia.
Eu imaginava que a maioria das pessoas que segue meu perfil pessoal também seguia o Manual, daí seria redundante divulgar as mesmas coisas em ambos.
Estava enganado. Descobri um serviço que compara as bases de seguidores de dois perfis, o TweepDiff. No teste que rodei dia 29 de março, apenas 11,2% do total de seguidores acompanhava os dois perfis, o que dá ~25% da base do perfil pessoal.
Pôr do sol, Paranavaí (PR).
Momentos antes de cometer um terrível engano, descobri que Engov After não serve para amenizar a ressaca, mas para adiar a inevitável bad da bebedeira.
Agora não sei o que farei com esse produto. Dinheiro jogado fora.
Pista do Colégio Estadual, Paranavaí (PR)
Anna Arkádievna lia e entendia, mas não estava gostando de ler, ou seja, de acompanhar a representação das vidas de outras pessoas. Queria muito viver ela mesma.
— Lev Tolstói, Anna Kariênina.
Boa sacada do design de capa deste Como escrever bem mencionar que trata-se do “clássico manual americano de escrita jornalística e de não ficção”.
Digo isso porque, embora o livro apresente dicas valiosas — nada revolucionário, mas que às vezes demoramos para aprender na prática ou nos esquecemos na correria do dia a dia —, muitos dos problemas e soluções que o autor traz dialogam com um tipo de escrita bem característico do ecossistema de mídia dos Estados Unidos — das New Yorker da vida —, que ou não se aplicam ou demandam adaptações para serem válidas aqui, no Brasil.
Feita essa (grande) ressalva, o livro vale a pena pelo conjunto de pequenas dicas e orientações, ora bem práticas, ora meio autoajuda, do tipo “confie na sua intuição”. (Não que isso seja ruim; manter o moral e a consciência de si mesmo são grandes desafios para quem escreve.)
A nova edição brasileira de Como escrever bem, de William Zinsser, foi publicada pela editora Fósforo, a quem agradeço o envio da cópia cortesia que li.
Descrever-se é difícil. Há uma linha tênue entre mostrar seu melhor lado e soar esnobe e, frente a esse dilema, não é raro nos apegarmos a clichês. “Gosto de ver filmes”, “adoro comer”, “vivo para viajar”. Quem não gosta disso tudo? Bom… eu não curto muito viajar.
Digo, até gosto, mas não faço questão, de modo que viajo quase sempre arrastado — a trabalho ou por alguém; nos últimos anos, pela P.
Em fevereiro, estivemos na Ilha do Mel (PR), uma viagem bate-volta (um fim de semana) adiada de janeiro, e em Belo Horizonte (MG), onde a acompanhei num compromisso dela. De lá, esticamos dois dias para Ouro Preto.
Foi a minha primeira vez em Minas Gerais. Na capital, ficamos na Savassi, uma região de que nunca tinha ouvido falar e que achei bastante agradável, com muitos restaurantes legais, prédios históricos, praças e tudo mais; uma atmosfera meio boêmia que deus me livre, mas quem me dera.
Fiquei intrigado com as árvores dali. Demos sorte de pegar dias ensolarados e essa combinação, não sei explicar direito, me remeteu à infância. Acho que foram o porte e as espécies de árvores, enormes e variadas, formando sombras que se impõem na paisagem e geram uma sensação de tarde de domingo na casa da vó com Clube da Esquina tocando ao fundo — esse detalhe acústico, uma liberdade poética da minha parte.
Ainda nos clichês, deliciamo-nos com muito pão de queijo, mas o café foi uma decepção: o do hotel era horrível e, ao contrário dos doces e queijos, não achamos pó à venda a preços melhores que os cobrados aqui em Curitiba. Às vezes os clichês perdem a razão de ser.
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Na última década, viagens viraram pretexto para olhar para mapas digitais. O celular tomou para si muitas atividades e rotinas que estavam espalhadas em outros dispositivos e lugares, mas não me recordo de mapas serem tão centrais em nossas vidas, ou na minha.
Até havia um no porta-luvas do carro, um negócio tão complicado que meu pai preferia pedir orientação a alguém aleatório na beira da estrada, não sem antes rodar um tempão a esmo crente de que estava no caminho certo porque homens, mas era isso. O conceito de “mapa” me era mais familiar no cinema, em filmes como os da série Indiana Jones, que no cotidiano.
Nessas e em outras viagens recentes, passei tanto tempo olhando para mapas que eles ficaram gravados na minha cabeça. Mesmo em casa, desde que abdiquei do carro próprio, consulto bastante o mapa do celular para decidir se um trajeto pode ser feito a pé (até 2, no máximo 2,5 km a depender do clima, rola) ou se pego uma carona em aplicativo ou, em tempos pré-pandêmicos, ônibus.
Em Ouro Preto, segunda parte da nossa viagem, os mapas não foram tão úteis. Qualquer “350 metros até o seu destino” se traduzia em suor e cansaço devido às ladeiras íngremes com calçamento irregular das vias. Muito bonita essa arquitetura histórica, mas não é por acaso que elas só resistem em lugares onde alguma lei mantém as coisas como eram no século XVIII.
Fora isso, Ouro Preto é uma cidade bem legal, com paisagens de tirar o fôlego, museus e igrejas fascinantes e ótimos restaurantes — comemos na Parada do Conde, O Passo, Bené da Flauta e Acaso 85.
Viajar a lazer cansa demais.
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P. costuma dizer que sou a única pessoa do mundo que não gosta de viajar. Suspeito que não seja o caso. Minha teoria é de que somos muitos, mas pouco expressivos, o que é compreensível: alguém que viaja sempre tem história para contar — até alguém que não faz questão, como eu. Já quem não gosta de viagens não fala de viagens sob o risco de se tornar monotemático e, portanto, chato.
Não que viajantes sejam sempre legais. Um grande medo que tenho é topar com alguém recém-chegado de uma viagem. Não estou só. Em Minas, comecei a ler Como escrever bem, do William Zinsser. A certa altura, dei uma boa risada com este trecho do capítulo em que o autor aborda a escrita sobre lugares:
Ninguém se transforma tão rapidamente em um chato quanto um viajante que chega em casa depois de suas andanças. Ele gostou tanto da viagem que quer logo nos contar tudo sobre ela — e “tudo” é justamente o que nós não queremos ouvir. Queremos ouvir apenas algumas coisas.
Espero não ter sido (muito) chato no meu relato acima.
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Ouro Preto (MG).
Belo Horizonte (MG).