De sedentário a atleta amador

No começo do ano, fiz uma cirurgia para corrigir um problema congênito na bexiga. “Coisa simples”, segundo o médico.

A cirurgia transcorreu sem problemas e fiquei dois dias no hospital para drenar todo (ou parte do) sangue que se acumulou onde normalmente só deve existir urina. É meio nojento, desculpe, mas continue comigo; quero contextualizar a situação.

Nesse período, dividi o quarto com um senhor com problemas cardíacos e respiratórios. No primeiro dia fiquei espantado quando a filha dele entrou no quarto com um… pastel de feira! Ele se recusava a comer as refeições servidas no hospital — que nem eram tão ruins assim. Além do apreço pela comida gordurosa, meu colega de quarto era fumante também. Já estava ali fazia quase duas semanas, angustiado, querendo ir embora.

Aquele episódio foi bem marcante para mim. Ficar dois dias num quarto de hospital, sem sentir dores, apenas em repouso, já foi bem ruim; quinze dias e com a saúde debilitada seria bem pior. Foi tão marcante que me propus mudanças na alimentação e nas atividades físicas.

Não foi a primeira vez que disse a mim mesmo “agora vai”. Não foi a primeira vez, mas em todas as outras eu havia falhado. E, nessa, ainda tinha o agravante de ter que esperar a recuperação da cirurgia — fiquei quase um mês com um cateter no ureter, o “caninho” que liga o rim à bexiga, o que me impedia de fazer quaisquer atividades.

O período de repouso passou e com ele vieram as mudanças. Na parte da alimentação, reduzi o consumo de doces, comida engordurada (cortei pastel) e carne vermelha, passei a não recusar salada (sempre comi, mas era mais seletivo), acrescentei frutas à minha dieta e doses generosas de água. Ah, e mantive a restrição a refrigerante, que havia começado em fevereiro.

Na parte física, estava convencido de que a caminhada seria o suficiente e, assim, comecei a andar cerca de uma hora por dia, no mínimo três vezes por semana. Calhou de, na mesma época, um fisioterapeuta me recomendar… pilates!

Isso mereceria um texto à parte, mas para não deixar assunto pendente, posso dizer que pilates é uma atividade pra lá de legal. Ela reforça com muita rapidez a musculatura e reflete bastante na postura, isso através de exercícios que não “agridem” o corpo, nem são cansativos ou enfadonhos, num ambiente e clima mais zen que o típico de salas de musculação. Aliás, o próprio lugar onde se pratica pilates se chama “estúdio”; a filosofia é mais trabalhar o corpo para si mesmo do que para mostrar músculos para os outros.

Há toda uma aparelhagem para desempenhar os exercícios, alguns puxados, e muito, mas muito preconceito. A maioria acha que pilates é coisa de mulher. Piadinhas à parte (e são muitas; como o povo é bobo), foram seis meses nos quais as mudanças no corpo se tornaram visíveis. O único problema do pilates é que é caro.

Em paralelo, mantive as caminhadas, que há pouco menos de dois meses se transformaram em corridas. Andar ou correr ao ar livre é bastante relaxante para a mente, um “efeito colateral” que, embora já tivesse ouvido muito falar sobre, não imaginava pudesse ser real. Mas é, e cada vez que volto de uma sessão, faço alongamento, reponho as energias e tomo um banho frio, é como estar novo de novo. Numa palavra, é revigorante.

Gosto de fazer caminhadas com o smartphone a tiracolo. Além de música ou podcast para distrair, também utilizo um aplicativo chamado Endomondo que, graças ao GPS, monitora a atividade e permite visualizar meus progressos. Não é o tipo de coisa pela qual sou obsessivo, mas dá uma sensação boa ver que, hoje, minha velocidade média quase que dobrou e as distâncias percorridas também cresceram consideravelmente em relação a março/abril. E é legal pra caramba dizer que, em 2011, eu já caminhei/corri 315,2 km e queimei mais de 17 mil calorias, o equivalente a 32 hambúrgueres!

Histórico do mês de outubro de 2011, no Endomondo.

Virei não um viciado, mas um interessado e disciplinado atleta amador. A minha meta passa longe de virar desportista, até porque não tenho mais idade, muito menos interesse nisso; meu objetivo é conservar da melhor forma possível o meu único bem insubstituível: meu corpo. E isso vai além do ato de praticar exercícios por si só; envolve planejar o meu dia de modo que, no final dele, eu tenha uma hora disponível para a prática, e envolve alguns sacrifícios alimentares que, afinal, não são lá tão sacrificantes assim.

Vejo-me às voltas com computadores todos os dias já faz uns bons anos e, talvez por isso, muitas coisas tendo a observar analiticamente. Ao nosso corpo, faço a analogia de um computador: tem que tudo estar funcionando bem, caso contrário ele é acometido por travamentos, panes e outros problemas indesejados. E tal qual um computador, o corpo humano também pede manutenção e alguma dedicação periódica. A complexidade de um organismo vivo é zilhões de vezes maior que a de uma caixa cheia de circuitos eletrônicos, capacitores e parafusos, mas de qualquer forma o funcionamento de ambos tem lá alguma relação.

Não é o caso de achar que, com essa série de mudanças eu me tornarei invulnerável ou à prova de doenças. O que me estimula a continuar com isso tudo é a evidente melhora que os hábitos saudáveis causam à qualidade de vida e saber que, embora algo inesperado ou impensado possa me derrubar lá na frente, pelo menos chance ao azar eu não darei. Se um dia, quando eu for velhinho, me ver num hospital por quinze dias para observação, não será por excesso de gordura ou nicotina no sangue.

No mais, se nada desse discurso saudável-gente-boa lhe inspirou, no fim das contas pelo menos visuais incríveis você poderá apreciar caminhando ao ar livre. Tem coisas que tela alguma representa tão bem quanto ver ao vivo; a natureza é uma delas.

Árvores e Sol na praça da biblioteca, em Paranavaí-PR.

Pôr-do-Sol no lago, em Guarapuava-PR.

Pôr-do-Sol na pista de atletismo, em Paranavaí-PR.

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