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Em todos os anos anteriores, sempre tinha algo em mente sobre o que escrever aqui no dia do meu aniversário.

Hoje, não.

Estou bem, obrigado, fazendo meio que as mesmas coisas em que estava metido há um ano. Essas grandes movimentações — trabalho, formação — tomam tempo, então me parece surpreendente, revendo o que passou, o tanto de novidades que eu tinha uns anos atrás nos intervalos entre eles.

De novo e significativo, talvez, apenas como tenho encarado o meu papel no mundo. As pessoas que afeto e de que maneira, as questões que estão ao meu alcance avançar e as que não, o que, afinal, me importa ou me impacta. Idealmente, é uma transformação constante e que, talvez por isso, nos passe despercebida. O que me chamou a atenção, nesse último ano, foi a celeridade dela e percebê-la em curso.

Entre essas transformações, está bem forte em mim a de que a Internet precisa ser revista. Eu não sou um nativo digital; passei pela transição de um mundo offline para um que não se desliga jamais. O deslumbramento em testemunhar tal mudança demorou a passar. Agora é hora de colocá-la em perspectiva. Já passou da hora, aliás.

Na prática, e é possível que isso seja mais um desejo descompromissado do que uma meta (porque dessa forma perderia o sentido), quero tirar (ainda) mais os olhos das telas e ter mais contato com o mundo material. Diminuir as camadas de abstração. Machucar-me, se preciso — “curtidas são para covardes, busque o que machuca”, escreveu Jonathan Franzen.

Pode parecer que o timing é errado, ante a iminência da realidade virtual e outros simulacros, alguns nos quais já estamos afogados. E ainda mais vindo de alguém que escreve sobre tecnologia! Gosto de pensar, porém, que por essas circunstâncias faz mais sentido o interesse pelo que vem de fora. Pelo que vem do passado, por aquilo que não dialoga diretamente com a tecnologia, mas que tem muito a dizer e a ensinar àqueles que estão nessa.

(Mais cedo, recebi a ligação de um robô querendo me desejar feliz aniversário. Ele perguntou duas vezes se era hoje mesmo, eu respondi que “sim”, ele não conseguiu entender. Fiquei sem meu parabéns robótico.)

Há cinco anos, comparei-me a uma folha em branco. Não a vejo, hoje, muito preenchida, mas abrir aquele espaço me trouxe oportunidades bem legais e permitiu um crescimento que de maneira alguma poderia antecipar. Com vários ciclos prestes a se encerrarem, espero que o início dos trinta se revele outra folha em branco. E se na próxima meia década eu passar por tantas transformações quanto as que passei na última, já serei bastante grato.

Anos anteriores: 24, 25, 26, 27, 28 e 29.

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